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quarta-feira, 30 de maio de 2007

Dez folhas de nada

Olha, não faz qualquer sentido. Sabes muito bem do que falo. Contaram-me que os semáforos na Suécia ao passarem de vermelho para verde também passam pelo amarelo. É como a vida a andar para trás num repente. Verde, AMARELO, vermelho, AMARELO, verde... Ao menos na Suécia avisam que a vida vai parar, mas também mostram que vai começar a andar de novo. O dia vai nascer de novo. O semáforo vai abrir. Não tarda. Custa muito contar o tempo ao segundo, mas custa muito mais não notar que os ponteiros se movem, e depois dar por ela e já não estás aqui. Nem sequer dá para perceber porque deixas a areia escorrer por entre os dedos, porque é que já nada mexe esse universo. Os sítios a que vamos porque são marcos, como faróis que guiam os bravos lobos do mar, só existem porque nos lembramos deles. Enquanto nos lembramos deles. Porque no dia em que tudo se olvida, não há que ter medo de morrer, mas sim de sentir a própria vida. E depois, a pressão do pressionar, a dor do doer, a inconsciência da consciência, a cegueira de nunca ter visto tão bem como nesse instante, não passam de linhas desalinhadas, dum futuro que apareceu tarde demais. É um silêncio ensurdecedor que ás vezes escolhemos obrigados. Acho que dói porque me lembrei de acreditar. É a noite sempre á noite, como se bastasse estar longe, estar calado, permanecer inerte. Sem palavras que sejam mel em algumas bocas, sem sons que nos tentem nem luzes que nos embriaguem corpo e alma. Mas no fundo, hei-de ir sempre dar a mim, no final do caminho, como algo sagrado e muito íntimo. Desde o dia que nascemos até ao dia que morremos, o peso maior é termos de nos suportar. Não nos podemos separar de nós, nem das coisas que fizemos. O semáforo vai voltar a abrir, como um círculo sem fim, e só espero que saibas que não faz sentido nenhum estarmos sós neste mundo.

5 comentários:

Anónimo disse...

o pior é quando os semaforos sao como os do S.João... aquilo é vermelho, vermelho, vermelho...
Mas nem os semaforos do S.João podem ficar eternament na mesma.
bjinhos ;)

Anónimo disse...

Hoje o meu dia está amarelo e tenho-os sentido sucessivamente amarelos, sem sequer perceber a razão pela qual a areia me escorrega entre os dedos. Às vezesassusta-me a possibilidade cada vez mais presente de já nada ser capaz de mexer com o meu universo. Pergunto-me se é sempre demasiado tarde ou se fui eu quem nunca se soube adiantar... ultimamente tenho-me esquecido de acreditar, defraudando a minha própria essência. Gostava de me poder separar de mim e voltar a acreditar que não faz sentido nenhum estarmos sós neste mundo.

Aconselharam-me a ler este blog pela qualidade do autor que, de facto, pelos primeiros textos que estou a ler é indiscutivel, só não pensei encontrar palavras, feliz ou infelizmente, tão familiares... vou continuar a leitura... Parabéns pela escrita!

Vaskio disse...

Acreditar é demasiado fácil. Senti-lo a cada instante é que é obra. Agradeço as palavras, o incentivo, os comentários. Se há coisa que me impulsiona, é ver o efeito das minhas palavras. Porque ter quase 1000 visitas, e apenas 20 comentários, dá que pensar ao escritor!

Anónimo disse...

Os visitantes sentem-se intimidados pela escrita do autor.

...outro dos efeitos das tuas palavras...

Vaskio disse...

Duvido. ;)