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segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Jean Grey

Deste lugar feito mito onde me sento, vislumbro a cidade do futuro. Vejo o castanho do ferro, o cinzento do betão, o azul do lume brando e o laranja da labareda selvagem. Vejo o encarnado aviso às aeronaves. Farolins que não apontam para lado algum, apenas estão lá. Como os amigos. É o que todos somos no fundo. Vejo o fumegante labor dos canhões em riste e acho que libertam o mesmo que eu. É o que eu sou no fundo. É então este o tempo. É esta a era de todos os encantos se despirem de ilusões. Apagam-se as palavras antigas da memória, porque ela é volátil, responde traiçoeiramente aos desejos do relógio que queremos usar no pulso, aquele que funciona pelas batidas do coração, até ele falhar. Aí, o relógio deixa de funcionar, e o tempo já não passa. Ou passa, mas já não importa, porque o coração parou e o relógio também. E não se sabe qual depende de qual, se o relógio do coração, ou o coração do relógio. Só se sabe que tal como funcionam juntos, também param juntos. E isso é tudo que importa. Neste lugar onde as palavras ficam e perduram, apagam-se todas aquelas que não merecem este altar. Não sou o único a estar aqui. A magia dum pedaço de história toca muita gente, e vejo na sua alegria de agora, a minha de outrora. Sei onde fica o lugar certo para estar, sei qual o caminho que me leva lá, e... ocorre-me uma ideia, que assento para não esquecer: Sabes quando algo mexe tanto, mas tanto contigo que, por muito que haja para dizer, perdes toda e qualquer vontade de o fazer? Levanto-me somente porque estava sentado. Digo adeus a alguém que não está, e até breve ao meu mais fiel amigo. Porque este é o lugar de onde vejo o futuro, cada vez mais presente que o passado.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Exposé

Esta manhã, toda a imensa rua está escura, enevoada pela sombra da luz do dia. Os prédios parecem mais altos, as casas têm cores sombrias, duvido que haja árvores e ninhos e passarinhos neste mundo. Descobre-se agora facilmente o lixo das ruas que pensávamos limpas e seguras na noite dos sonhos. Era algo que com certeza seria bonito, não importa quão frágil fosse, não interessa se desaparecia ao abrir dos olhos. Mas agora essas ruas estão cobertas de vidro esmagado, e não se escolhe quando se caminha descalço. Segue-se em frente, porque a estrada já lá está feita, e se não formos nós a percorrê-la, ninguém o fará por nós, todo esse mel é só nosso, e é tudo o que temos de vez em quando. A única esperança é não ter de ajoelhar nem de vergar as mãos ao solo no entretanto. E que as chagas se resumam ás plantas dos nossos pés. Porque um dia, as silvas que orlam estas avenidas são substituídas de novo por belas flores e um mundo de cores, e é um passeio muito mais alegre, "pois o sol já desponta no horizonte", e porque "enganais-vos quando dizeis que não tendes manta, meu olhar em vós repousa". E é esse todo o calor que alguma vez precisamos, o da palavra certa no momento certo, uma cantiga de amigo. A amizade onde nos procura, e não onde a procuramos. Esta manhã, foi por segundos, breves segundos que a rua me pareceu escura. As casas na verdade são térreas, as sombras são feitas de luz, e os melros assobiam um eco divino, creio que falam de anjos. Creio que falam de ti. Vislumbro roseiras abertas de par em par ao longo da estrada. E há uma manta que espero que nunca mais abandone meu sono, tão tranquilo e tão sereno como sempre gostei que fosse. Porque nada nos impede de sermos livres quando realmente o queremos ser.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Dar tempo

Foi neste preciso instante que fiquei sem chão.
Como em todas as quedas, um Inverno em pleno Verão.