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sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Exposé

Esta manhã, toda a imensa rua está escura, enevoada pela sombra da luz do dia. Os prédios parecem mais altos, as casas têm cores sombrias, duvido que haja árvores e ninhos e passarinhos neste mundo. Descobre-se agora facilmente o lixo das ruas que pensávamos limpas e seguras na noite dos sonhos. Era algo que com certeza seria bonito, não importa quão frágil fosse, não interessa se desaparecia ao abrir dos olhos. Mas agora essas ruas estão cobertas de vidro esmagado, e não se escolhe quando se caminha descalço. Segue-se em frente, porque a estrada já lá está feita, e se não formos nós a percorrê-la, ninguém o fará por nós, todo esse mel é só nosso, e é tudo o que temos de vez em quando. A única esperança é não ter de ajoelhar nem de vergar as mãos ao solo no entretanto. E que as chagas se resumam ás plantas dos nossos pés. Porque um dia, as silvas que orlam estas avenidas são substituídas de novo por belas flores e um mundo de cores, e é um passeio muito mais alegre, "pois o sol já desponta no horizonte", e porque "enganais-vos quando dizeis que não tendes manta, meu olhar em vós repousa". E é esse todo o calor que alguma vez precisamos, o da palavra certa no momento certo, uma cantiga de amigo. A amizade onde nos procura, e não onde a procuramos. Esta manhã, foi por segundos, breves segundos que a rua me pareceu escura. As casas na verdade são térreas, as sombras são feitas de luz, e os melros assobiam um eco divino, creio que falam de anjos. Creio que falam de ti. Vislumbro roseiras abertas de par em par ao longo da estrada. E há uma manta que espero que nunca mais abandone meu sono, tão tranquilo e tão sereno como sempre gostei que fosse. Porque nada nos impede de sermos livres quando realmente o queremos ser.

5 comentários:

ipsaego disse...

Às vezes, o sol está mesmo atrás das nuvens e elas não são assim tão escuras quanto os nossos olhos as captam. Às vezes, é preciso aprender a olhar o que está à nossa volta, aprender a colorir o que não está na tonalidade que queremos. E mais importante que tudo, às vezes, temos que olhar para o lado e ver que "there is a light that never goes out". Pode mesmo acontecer que por momentos, cesse o azeite na lamparina, mas há sempre uma mão que a reabastece!
Até pode ser muito lugar-comum, mas "por morrer uma andorinha não acaba a Primavera"!

Muitos olhos repousam sobre ti, para que o frio da noite não te tome. E há muitas flores de verde pino a perfumar o teu caminho...

Um abraço
Marta

Anónimo disse...

Dissertações...

“Era algo que com certeza seria bonito”, sem dúvida!

“Mas agora essas ruas estão cobertas de vidro esmagado, e não se escolhe quando se caminha descalço." (o q te falava ontem) Mas “quando realmente o queremos” podemos escolher tudo!

“plantas dos nossos pés” – encontro aqui toda a essencia poetica: as plantas dos pés enquanto isso, as plantas dos pés porque deles florescem as raízes do caminho que percorremos, e mais e mais... enquadramento perfeito!

“o da palavra certa no momento certo, uma cantiga de amigo” , obrigada por esse calor da amizade onde nos procura, e não onde a procuramos;)

P.S. Pronto não resisto a dize-lo eheh agrada-me particularmente a tua predisposição para a palavra “mel”, por um significado muito peculiar (meu) sempre que a leio há um gosto doce que me cobre as amarguras =) Thanks (mm não sendo intencional)

Vaskio disse...

Eu gosto muito da palavra mel. E de muitas outras mais. Este texto tem uma razão muito própria de ser, como todos os outros, só que desta vez, é muito mais fácil. Quem sabe..

Anónimo disse...

Eu contenho ao máximo o uso do termo facil... para não dificultar as coisas...

Vaskio disse...

Nada é tão difícil como usar o termo fácil, porque a maior parte das vezes, quando o usamos, não é verdade...