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segunda-feira, 2 de julho de 2007

(A)mor fina(L)

Tenho de volta de mim mil sóis em fúria incandescente. Estas vão ser portas fechadas, num vácuo imenso de passos largos rumo ao nada. Porque eu sei que o amanhã não terá tamanho que me cubra o espírito e apazigue a alma despida de mim mesmo. Chegará o inevitável dia inevitável em que saltará de dentro de nós o ensejo do encantamento e da ilusão desiludida, para que possa fugir daquilo a que nunca hei-de escapar. Não é preciso tomar decisões, quando podes confortavelmente deixar-te convencer por elas, para que elas decidam por ti e por si. Mas nunca será fácil rasgar a pele que nos clamou com todo o fervor, que nos raiou os olhos de tudo para dela fazermos nada. Um doce Verão do qual não abdico, se do outro lado espera um eterno Inverno, uma riqueza frágil como o direito de querer mais e melhor. Eu sei que as veias não me suportam mas também sei que não te suportam a ti. Uma droga a circular pelos vasos da alma, porque a descobriu onde nunca ninguém procurou. Um despertar tranquilo do sono feito tormenta que é estar vivo. Estará na mesma o espaço que percorremos quando for hora de voltar atrás na fita das recordações. Estará lá sempre o calor, o arrepio e o amargo do chocolate. E não vais fraquejar, pois nunca ninguém saberá o que traz realmente a curiosidade, porque quando a matamos, é aí que ela nos começa a matar a nós. Será sempre assim, desde aquele dia até àquele dia. Desde o dia em que nada custava até ao dia em que já nada custe.

11 comentários:

* misty * disse...

anestesia é o tempo que nos perde quando não queremos perder tempo. Será anestesiante quando não temos nada a perder?

lol... morfina boa :)

Vaskio disse...

Não ter nada a perder é anestesiante se tivermos algo a perder e o queremos ignorar. A anestesia existe para camuflar o torpor de algo. Para adormecer algo que não pode estar acordado. Logo, pressupõe-se a existência de algo, nunca de nada. :)

* misty * disse...

é anestesiante não ter nada a perder. no sentido em que, neste caso, o que ganharmos será sempre apenas um passo a mais. se tivermos algo a perder, o que ganharmos do outro lado será vertiginoso.

não ter nada a perder é como uma anestesia porque retira o carácter de vertigem à coisa ;)

patricia disse...

amorfinaleijalmarcadatadavidadormente

***

patricia disse...

será o amor final
amorfinal?

amorfina a alma
o sangue a veia?

não saberei responder...
acho que nunca!

*

IpsaEgo disse...

"Sento-me debaixo do cipreste e sei
Que não há noite ou aurora que mudem, que
Te mudem, que me mudem, que
Nos mudem…"

talento também não falta aqui, caríssimo senhor do Obelisco!

um abraço

Marta

Vaskio disse...

Patrícia, obrigado por enriqueceres o meu blog com gotas do teu imenso talento. Brilhante! Continua assim :)

Vaskio disse...

De enorme significado para mim, essas palavras e esse versos, menina do obelisco ;)

Anónimo disse...

Por diversas vezes os amanhãs me parecem demasiado pequenos para que eu caiba neles, também por diversas vezes me deixo não decidir, estupidamente ignorando o facto de isso já implicar uma decisão: não mudar nada. Será que existe esse inevitável? Já o tive como tão certo que hoje... desconfio... Lendo estas palavras talvez esteja a morrer porque da vida já pouco me sugere curiosidade, estão sempre na mesma os espaços, e são sempre mais do mesmo os caminhos novos, mas... sei lá... existem sempre “mas”... não é? Ainda que emaranhados em morfina, algum momento nos hão-de atropelar, ser mais fortes do que a nossa teimosia em não sentir por este sentir demasiado.

Mel

Vaskio disse...

"A vida é sempre uma curiosidade
que me desperta com a idade
interessa-me o que está para vir...
A vida em mim é sempre uma certeza
que nasce da minha riqueza
do meu prazer em descobrir".

Anónimo disse...

... as pequenas ilhas...