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quarta-feira, 18 de julho de 2007

Casa de Partida

Eis-me de regresso a mim mesmo. Estive para além de mim, a gravitar sobre o eu e o tu, o nós, a acreditar no possível, a imaginar o resto, e como todo ele morre com a facilidade dum gesto jamais repetido. Guardo comigo as palavras certas, aquelas que esperam a hora errada para serem ditas, aquelas que aguardam o sentimento inoportuno, a ferida desabrida e o contorno rarefeito duma boca que nunca será a tua. Há palavras que não saem pela boca nem entram pelos ouvidos. São dias que acontecem complicados, inertes, silenciosos. Mas há-de haver, sem dúvida, um lugar onde tudo recomeça. Onde princípio e fim se encontram e se abraçam como eternos amigos, a quem nada separa ou amaldiçoa o sentimento, porque tempo e distância não o vergam. Um lugar onde o tabuleiro da vida encontra a sua paragem, a sua garagem, o seu abrigo, até os dados serem novamente lançados rumo à seguinte doce agonia. Trago comigo aquilo que julgava perdido, todo o amor do mundo e toda a sua impotência. Perdão, omnipotência. Aliás, omnipresença. Aliás... Julgo que não. Não o quê? Não trago. Alguma vez trouxe? Não. Não sei. Talvez. Eis-me de regresso aos diálogos ilógicos da diabrura que teimo em ter comigo mesmo. Acredito que possa doer. Muito. Palavras, lugares, sítios, olhares. Um abraço. Mas não creio que nada termine sem uma gota de prazer. Sem um travo a mel, um cheiro a Primavera extinta, uma labareda carmim. É algo que jamais irei esquecer. A esperança dum fim assim.

4 comentários:

IpsaEgo disse...

"Não sei." Lá está a resposta que não compromete, que é susceptivel de ser dada a qualquer resposta. Porque onde está, afinal, a tal casa de partida para um regresso mais ou menos anunciado na esperança frustrada e retomada?
Será que está dentro de nós? Não sei...
Mas, às vezes, a casa de partida pode ser interpretada como um adeus ou como um olá. Quem sabe? Eu não sei...

Mais um texto a transbordar nas ondas a espuma do talento.
Um abraço, senhor do Obelisco.

Marta

Vaskio disse...

A casa de partida está lá. No início de tudo. No final de tudo. No cruzamento dessas duas estradas. De onde vimos, para onde vamos... Não sabemos exactamente qual percorremos. E tudo se cruza, num círculo sem fim. Não há atalhos para a estrada da vida.
;)

Unknown disse...

Não há atalhos, é certo. Nem estradas secundárias. É tudo o mesmo caminho, ainda que sinuoso: as idas, os retornos, os inícios, os fins e as continuidades. Há sempre algo que fica de um fim. "Na praia deserta dos dias que passam, falo ao mar de coisas que vi, falo ao mar do que nunca perdi". São os doces ocasos, tolerados pela esperança do que está por vir, pelos sonhos por realizar. Porque "espero sempre um amanhã e acredito que será mais um prazer. A vida é sempre uma curiosidade que me desperta com a idade, interessa-me o que está para vir." Nunca se sabe o amanhã.*

Anónimo disse...

Há textos que por serem tão bons nos fazem divagar neles, tecer diversos comentários, etc etc.... mas ha tb textos cujas próprias palavras nos deixam sem palavras... arrebatadores, e que apesar de em determinadas frases até magoarem porque tocaram numa ferida qualquer, ainda assim nos apetece agradecer ao autor e dar-lhe os parabéns!