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domingo, 3 de junho de 2007

A agenda e a consumição

Só queria não ser só, não estar só, não querer só. Pois é o desejo por realizar, a fome por saciar, a sede por matar que conduzem o homem á luz ou á queda - qual delas a pior. Dei teu nome a um poema e fiz do teu rosto um emblema, que trago ao peito... do lado de dentro. É um gesto, um afago, uma sina que meus sonhos ilumina. É o ar que se enamora por ti só porque sente a vaidade de o respirares. Porque dás vontade de cantar. É uma consumição. De certeza que já reparaste que as estações do ano não passam, mas antes desfilam diante de ti, tentando te impressionar. É uma luta desigual. Já não consigo passar incólume pelas coisas, e ver o tempo definhar sangra-me. Compulsivamente. E depois, eis que respiras e eu celebro-o. Vamos conversar e eu não vou saber explicar melhor que um beijo. Jamais te esquecerei, pois não me quero lembrar de ti. E se há coisa que não esqueço, é que nunca mais me quero lembrar de ti. É uma consumição. Penso bem. Penso melhor. Hei-de ser velho e não saber a vida de cor.

6 comentários:

* misty * disse...

Há palavras que me fazem sentir mm pekenina… palavras que consomem e cativam… palavras como as tuas! Em todos os momentos e por todos os motivos… obrigada por isso :)


Ah e tou severamente abismada hoje ;)

patricia disse...

Os velhos não sabem a vida de cor. Mas concerteza já sentiram a cor da vida.

*

Anónimo disse...

Neste texto ha duas coisas que me tocam particularmente: o facto de em tudo ser tão compulsiva e o facto de também a vida tantas vezes me servir de companhia, depois de o ler, apetece-me deixar um trecho de uma autora que não interessa nada referenciar... cá fica, se a memória não me trama é mais ou menos assim:

"Lembro-me de imaginar o teu sono profundo.

Por quanto tempo? Pouco.

Regressavas num ápice à vida,
ao que sempre perseguimos e sempre
nos mata."

Já nem as minhas palavras sei de cor... talvez isso seja preocupante ou talvez nada mereça preocupação...

Vaskio disse...

É por isso que eu usava uma agenda, onde apontava a minha consumição.

Anónimo disse...

Já tive as minhas agendas, entretanto percebi que a minha consumição não merecia ser perpetuada...

Vaskio disse...

Toda a consumição merece ser perpetuada. Faz parte de nós e do que somos e daquilo em que nos tornamos. Quem sabe se um dia não fazemos com que ela faça algo por nós, depois de tanto termos feito por ela?